Leitura de 6 min   |   19/04/2024

KayBlack transforma crise pessoal e põe 14 músicas nas paradas ao mesmo tempo

Rapper paulista é o artista com mais músicas nas paradas do Brasil hoje. Ele explica influência de pagode e de conflitos no amor e na carreira no EP 'Contradições', como o sucesso 'Melhor só'.
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Um relacionamento confuso, um problema na laringe e dúvidas na carreira: KayBlack transformou essa crise em músicas emotivas que viraram o maior sucesso de sua carreira, o EP “Contradições”.

Desde o lançamento, no dia 31 de março, as 7 músicas do EP estão nas paradas de streaming no Brasil. “Melhor só” já chegou ao 2º lugar do Spotify.

Outras 7 faixas anteriores já estavam bem ou foram impulsionadas pelo destaque do EP. Resultado: das 200 músicas mais tocadas no país, 14 são dele. Ninguém alcança essa marca atualmente.

As músicas novas subvertem o trap, variação mais popular do rap dos EUA: as batidas graves ganham dedilhados de violão e guitarra, e as letras sobre festa e drogas dão lugar a versos de amor, inspirados na tal crise vivida pelo cantor paulista.

A virada não é novidade na vida de KayBlack, que começou cantando funk aos 11 anos. Ele e o irmão mais novo, o MC Caveirinha, tiveram uma vida dura e chegaram a ficar sem casa após a família ser despejada.

Azar no amor, sorte na música

“Eu nunca tinha vivido uma parada tão intensa assim na minha vida”, ele diz sobre o romance que detonou sua crise – e depois, o sucesso. “Mas depois de um tempo, a gente foi se conhecendo melhor, e eu vi que ela não era realmente aquela pessoa”, ele diz.

“Eu estava dentro do meu quarto, sem expectativa. Não estava querendo fazer nada, nenhum trabalho”, lembra KayBlack.

Seus parceiros musicais, Marquinho no Beat e Wall Hein, também foram conselheiros de vida. “Eles falaram: ‘Como assim você vai ficar aí desanimado? Vamos usar isso para você colocar para fora os sentimentos, mano. Aproveita. Você não está com bloqueio criativo? Fala do que você está vivendo’.”

Ele aceitou o desafio e começou a criar música com os amigos, no mesmo quarto onde viveu “a bad”. A voz já estava melhor, após o problema na laringe o deixar oito meses sem fazer shows. Assim nasceram as músicas de “Contradições”.

Kayblack
KayBlack — Foto: Divulgação

Outra influência melódica de “Contradições” é o pagode romântico que o pai de KayBlack e Caverinha ouvia e tocava em casa. “Com o tempo fui desenvolvendo um lado do canto, fui aprender a cantar e usar melodias, uma coisa que tinha em mente desde criança porque meu pai veio do pagode.”

“Comecei a ouvir muito pagode, e outros estilos, e isso foi abrindo a minha mente e dando esse espaço para eu fazer esse estilo de ‘trap love song'”, ele explica.

“Contradições” é cheio de dedilhados de violão e guitarra. “Estou buscando trazer um lado mais orgânico para o meu som, e eu quero colocar isso também nos meus shows”, ele adianta.

GR6 e Warner

Não é só o som que explica o fenômeno de “Contradições”. Depois de espantar a crise pessoal, KayBlack conseguiu um reforço na carreira. Ele conversou com Rodrigo Oliveira, dono da GR6, maior produtora do funk do Brasil, e virou agenciado da empresa.

Além disso, ele também assinou um contrato fonográfico com a Warner Music. Ele já estava crescendo com singles avulsos antes. Mas faltava um projeto maior. O EP ganhou um projeto gráfico e um lançamento caprichados, que ajudaram a impulsionar as músicas em streaming.

“Agora não consigo nem raciocinar ainda. Olho todo dia de manhãzinha, 8 horas acordo e entro lá no Spotify e olho minhas musiquinhas lá em alta”, comemora.

Perrengue dos Menezes

KayBlack — Foto: Divulgação

g1 já contou a história difícil da família Menezes em 2020, quando o MC Caveirinha estourou. Ele começou como dançarino de KayBlack, mas resolveu cantar cedo, se enveredou pelo trap e ainda convenceu o irmão mais velho a trocar o funk pelo estilo.

Em 2017, os pais deles tinham trocado um carro pela entrada de uma casa própria. Mas perderam tudo. “Minha mãe e meu pai tinham comprado uma casa que não podia ser comprada. O terreno não era apropriado para morar e a gente não tinha condição de pagar a casa”, contou Caveirinha.

A casa foi demolida. “Meu irmão e eu fomos pegar leite para tomar café da manhã. Quando voltamos, eu vi caminhão, trator e polícia lá. Falei: ‘mãe, estão chamando lá fora’. E a mulher falou: ‘Se vocês não saírem, nós vamos derrubar com vocês dentro’. A gente começou a tirar as coisas chorando.”

A mãe foi morar com os filhos mais novos de aluguel dentro da garagem de um barzinho no mesmo bairro. KayBlack e o pai chegaram a viver dentro de um Corsa antigo, que não andava mais.

Mas ele nunca deixou de correr atrás do trabalho na música. Aos poucos a família se recuperou. Quando Caveirinha começou a fazer sucesso, KayBlack largou por um tempo sua carreira e foi apoiar o irmão. Ele também compunha para outros artistas.

Ele foi perdendo a vergonha de lançar suas próprias faixas. “Eu achava que não era meu momento. Só que eu vi que isso era um medo bobo. Até hoje eu comento com a molecada quando pede meu conselho. Eu digo isso: não seja tímido.”

‘Tudo em paz’

O romance dramático que inspirou o álbum já terminou. Mas ele diz que hoje é amigo da ex (cujo nome ele prefere não revelar). “A gente tem uma amizade maneira. Inclusive ela posta direto as músicas. ‘Ah, essa foi para mim'”. Acho que o caso só serviu para me inspirar mesmo”, ele reflete.

“Quando eu mostrei as músicas, eu falei: ‘Olha só o que você me fez fazer.’ Ela falou: ‘Está muito bom, vai fazer sucesso.'” A ex acertou. “Hoje está tudo em paz. É um dos melhores momentos da minha carreira. Na verdade, o melhor.”

Kayblack — Foto: Divulgação

Fonte: Matéria retirada do portal G1